domingo, 26 de março de 2023

Porque é que Stephen King odiava a adaptação para cinema de "Shining"?

 

"Shining" (1980) é considerado um dos melhores filmes de terror da História do Cinema, mas, quem viu "Ready Player One" (2018), ou é fá de Stanley Kubrick e/ou de Stephen King, sabe que este ultimo odeia este filme.

Correção: odiava.

Bem... Vamos saber essa história.


O livro, escrito por King enquanto sofria de alcoolismo, contém um elemento autobiográfico.

King ficou desapontado com o fato de alguns temas, como a desintegração da família e os perigos do alcoolismo, estarem menos presentes no filme.


King também viu a escolha de Jack Nicholson para interpretar Jack Torrance como um erro, argumentando que resultaria numa rápida perceção entre o público de que o protagonista enlouqueceria, devido ao famoso papel de Nicholson como Randle McMurphy em "Voando Sobre Um Ninho de Cucos" (1975).

King sugeriu que um ator mais "comum" como Jon Voight, Christopher Reeve (o Clark Kent de "Super-Homem", 1978-1987) ou Michael Moriarty ficasse com o papel, para que a queda de Jack na loucura fosse mais desconcertante.

No livro, a história é contada no ponto de vista de Danny, enquanto no filme o pai dele é o protagonista; na verdade, uma das diferenças mais notáveis está no perfil psicológico de Jack Torrance. 

Segundo o livro, o personagem era descrito como um homem comum e equilibrado que aos poucos perde o controle; além disso, a narrativa escrita refletia traços pessoais do próprio autor naquela época (marcada por insônia e alcoolismo), além de abusos.


Em entrevista à BBC, King criticou a performance de Shelley Duvall como Wendy, afirmando que ela está "basicamente lá apenas para gritar e ser estúpida, e essa não é a mulher que eu escrevi".

A Wendy no livro é uma mulher forte e independente a nível profissional e emocional.


King também não gostava da minimização do sobrenatural no filme; King imaginou Jack como uma vítima das forças genuinamente externas que assombravam o hotel, enquanto King sentiu que Kubrick via a assombração e a sua maldade resultante como vindo dentro do próprio Jack.


King mais tarde criticou o filme e Kubrick como realizador:

"Partes do filme são arrepiantes, carregadas de um terror implacavelmente claustrofóbico, mas outras falham. 

Não que a religião tenha que estar envolvida no horror, mas um cético visceral como Kubrick simplesmente não conseguia entender a maldade desumana do Hotel Overlook. 

Em vez disso, ele procurou o mal nos personagens e transformou o filme numa tragédia doméstica com tons apenas vagamente sobrenaturais. 

Essa era a falha básica: porque ele não podia acreditar, ele não podia fazer o filme verossímil para os outros. 

O que há basicamente de errado com a versão de Kubrick de Shining é que é um filme de um homem que pensa muito e sente muito pouco; e é por isso que, apesar de todos os seus efeitos virtuosos, nunca o pega pela garganta e fica no caminho que o verdadeiro horror deve seguir."


King também ficou desapontado com a decisão de Kubrick de não filmar no The Stanley Hotel em Estes Park, Colorado, que inspirou o livro (uma decisão que Kubrick tomou porque o hotel não tinha neve e eletricidade suficientes).


Mas porque é que ele já não odeia?

Mike Flanagan, diretor de "Doctor Sleep" (2019), reconciliaria as diferenças entre as versões do livro e do filme de "Shining" lá.

"Doctor Sleep" é uma adaptação direta do livro de Stephen King, que é uma sequela do livro  "Shining", mas também é uma sequela do filme de Kubrick.

King inicialmente rejeitou a proposta de Flanagan de trazer de volta o Overlook como visto no filme de Kubrick, mas mudou de ideia depois que Flanagan apresentou uma cena dentro do hotel no final do filme que serviu como motivo para trazer de volta o Overlook do filme de Kubrick. 

Ao ler o roteiro, King ficou tão satisfeito com o resultado que disse: "Tudo o que nunca gostei na versão de Kubrick de Shining foi redimido para mim aqui."


Portanto é esta a história.

Um Bom Abraço e Até á Próxima!

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